A minha tia insiste que sou tal e qual o meu tio. Mas o meu pai diz que eu sou muito parecida com a minha bisavó (Leon)Tina.
Nunca me achei parecida com a avó Tina. Mas o meu pai diz que basta "apanhar o cabelo em cima e tirar os óculos" para ficar mesmo muito parecida. Continuo a não achar...
Mas fico contente com esta comparação. Não só por achar que a minha bisavó (avó da minha mãe) era uma mulher muito interessante, mas também porque é uma das muitas que admiro na minha família.
A avó Tina nasceu em 1909, em Ervideiros, no meio do Gerês. Tinha 6 irmãos e nunca foi à escola - acabou por passar a infância e a adolescência em casa, a tratar deles e a ajudar a mãe com as tarefas domésticas. Não aprendeu a ler nem a escrever, limitando-se à casa, ao campo e à família.
Começou a namorar com o meu avô Basílio, um homem que saiu do Gerês muito novo para 'se fazer à vida' em Lisboa. Como a distância era enorme (e no início do século XX ainda parecia maior...), a única forma de se 'verem' era através de cartas de amor. Por isso, a avó Tina decidiu pegar nos cadernos dos irmãos mais novos e aprender a ler e a escrever sozinha. "Ninguém tinha de ler as cartas que mandávamos um ao outro", chegou a dizer à minha mãe.
E a partir daqui, seguiu-se uma história de amor, em que uma minhota 'aventura-se' até à capital, à procura de uma vida melhor e do seu amor de sempre.
Eu sei que esta é a história da maioria dos antepassados das pessoas que conheço, o analfabetismo estava espalhado por Portugal inteiro e muitos rumaram a Lisboa à procura de uma vida melhor. Mas não as vejo a elogiarem os seus antepassados, a partilharem as suas histórias, a sentirem-se orgulhosas dos feitos daqueles que tornaram possível a nossa existência. Mostrem o orgulho que têm na vossa família, partilhem acontecimentos, histórias bizarras, pequenas conquistas...
O que há mais na minha família (nos dois lados) são histórias incríveis. E acho que não tenho de as guardar só para mim - é a partir de histórias como estas que surgem livros, filmes e músicas. Pode ser que um dia haja um livro sobre os Corais, uma música sobre os Salles Gomes e um filme sobre os Marques Alves!
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