Adoro televisão, sou completamente viciada. Também adoro
passar algum tempo no Facebook, a ‘coscuvilhar’ as fotografias dos outros. Mas
o que gosto mesmo é de ler.
Quando era bebé, o meu pai lia-me um livrinho todas as
noites. Para além de uma história (sempre com uma mnemónica), tínhamos que
pegar no livro com os 365 contos e ler o do dia. Ainda hoje sei algumas das
histórias de cor. E espero que o meu pai não se esqueça das musiquinhas todas
para cantá-las aos netos.
‘Entrai, entrai, entrai por favor. O primeiro número é do…
domadooooooooor’.
Quando comecei a ler sozinha mandavam-me para a cama às
21h30 (e mesmo assim era um sortuda,
alguns amiguinhos às 20h30 já estavam de
luz apagada).
Depois de todos os beijos
de despedida, a minha irmã Teresinha (com quem dividia o quarto) caía para o
lado e eu metia-me debaixo dos lençóis, com uma lanterna, a ler revistas da
Turma da Mónica (Maurício de Souza) e livros do Pedrito Coelho (Beatrix Potter). Se calhar foi por
causa disso que comecei a usar óculos…
Depois evoluí para os Harry Potter (J.K.Rowlling). O que eu
gostava de estar sentada numa poltrona enorme que tínhamos na sala, com uma
tacinha de plástico com Chocapic e a pensar no quão maravilhosa deve ser uma
cerveja de manteiga!
Ao mesmo tempo, ouvia nas aulas de Português – tive uma
professora maravilhosa no 5º e 6º ano – As Crónicas de Nárnia (C.S.Lewis) e O
Hobbit (Tolkien). Ficava ansiosa para que chegasse a sexta-feira só para ouvir
mais um capítulo.
No meio disto tudo, o meu pai enchia-me de Astérix e Obélix,
Calvin e Hobbes, Mafalda, Hagar, Spirou, Tintin, Lucky Luke, Black e Mortimer,
Gaston, Luluzinha,… Todas as bandas desenhadas que possam imaginar.
Com a vinda da adolescência – pronto, a idade parva –
comecei a ler coisas do género ‘Não suporto a minha mãe, o que devo fazer?’ ou ‘Gosto
dele e não sei como lhe dizer’. Quando fazia anos recebia ‘carradas’ de livros
destas colecções. Li dois e jurei para nunca mais. Foi nessa altura que apostei
no Colégio das Quatro Torres e na colecção Mistério (ambos da Enyd Blyton) –
que me deixou para sempre o ‘bichinho’ dos policiais.
No secundário – ainda na idade parva, mas não tão parva… -
comecei a pedir conselhos ao meu pai. Ele lá me recomendava alguns (tinha muita
dificuldade em emprestar os seus livros, com medo que eu desse cabo das capas).
Foi nessa altura que li ‘O Primo Basílio’ (Eça de Queirós) e ‘O Triunfo dos
Porcos’ (George Orwell). Claro que nesta
altura (e ainda hoje, como é óbvio) lia algumas coisas mais light, como ‘O
Diário de Bridget Jones’ (Helen Fielding). Adorava e continuo a adorar.
Com a Faculdade, comecei a ler coisas que pensei não ter
estofo para aguentar, como a ‘Ilíada’ e ‘A Odisseia’ (ambos de Homero), ‘Uma
História da Leitura’ (Alberto Manguel), ‘A Ideologia Alemã’ (Marx. Este
custou-me um bocado. Não pelo conteúdo, mas para o contexto em que tive de o
ler) e ‘On Liberty’ (John Stuart Mill)
E com o crescimento surgiu também a curiosidade. Tanto em
relação aos clássicos como às novidades. ‘Cem Anos de Solidão’ (G.G. Márquez), ‘Gabriela
Cravo e Canela’ (Jorge Amado), ‘A Metamorfose’ (Kafka), ‘A Mãe’ (Pearl Buck), ‘No
Fio da Navalha’ (Somerset Maugham), ‘O Amante de Lady Chatterley (D.H.
Lawrence, que nasceu no meu dia de anos), ‘A Máquina de Fazer Espanhóis’
(Valter Hugo Mãe), ‘Para Onde Vão os Guarda-Chuva’ (Afonso Cruz), ‘Travessuras
da Menina Má’ (Mário Vargas Llosa), ‘Os Pilares da Terra’ (Ken Follett), ‘Of
Mice and Men’ (Steinbeck), ‘1984’ (Orwell), ‘O Grande Gatsby’ (Fitzgerald) e ‘O
Retrato de Dorain Gray’ (Oscar Wilde) são apenas alguns dos que li desde então
e que estão na lista dos preferidos.
E ainda me faltam tantos! Agora estou a ler ‘Dom Casmurro’
(Machado de Assis. É por causa deste livro que a minha irmã mais nova tem a alcunha Capitu). A falta de tempo e as maravilhosas séries que temos na
televisão todos os dias estão a fazer com que ele esteja ao lado da cama há
demasiado tempo. Mas conto dar um valente avanço brevemente. Depois segue-se ‘Número
Zero’ (Umberto Eco) e ‘Mataram a Cotovia’ (Harper Lee).
É impossível dizer que tenho um livro favorito. Mesmo que
tente dizer aquele que mais gosto dentro de cada género, é impossível. Cada um
envolve o leitor de uma forma completamente diferente, o que impossibilita uma
comparação.
Sei dizer aqueles que não gostei de ler – não vou revelar
aqui, senão acho que alguns leitores iam ter uma sincope ou algo do género… Não
se pode agradar a todos – mas fazer um ‘top’ dos melhores é completamente
impossível. Cada um é bom à sua maneira.
Oiço cada vez mais miúdos de 12, 13, 14, 15 anos a dizer que
não gostam de ler. Não fico admirada. É verdade que hoje em dia existem os
computadores, os tablets, os smartphones e eles estão demasiado ocupados com
tanta tecnologia. Mas a verdade é que somos animais de hábitos. A culpa é dos
paizinhos, que não se deram ao trabalho de incutir a rotina da leitura, de lhes
ler histórias à noite, de lhes mostrar como há histórias muito mais
interessantes do que as séries infanto-juvenis do Disney Channel ou do
Nickelodeon.
E atenção: Conheço muitas pessoas da minha idade que não
gostam de ler. Da minha idade e mais velhas do que eu. Algumas acredito que
seja mesmo falta de gosto (eu detesto correr e fazer desporto, não há nada a
fazer), outras é pura preguiça e falta de hábito.
Não deixem os livros para trás. Imponham uma hora de Canal
Panda e uma história pequenina a seguir ao jantar. Apresentem às crianças a
banda desenhada (também há desenhos nos livros…) e tentem incutir a importância
de uma boa leitura. Se a coisa resultar, preparem-se para uma conta do
oftalmologista e do oculista. Mas, pelo menos, foi por uma boa causa.
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