terça-feira, 23 de junho de 2015

A avó Manela

Faz hoje 14 anos que morreu a avó Manela. Confesso que nem sabia a data ao certo. Sabia que era a 20s de Junho. E fiquei triste por, 14 anos depois, ainda não ter decorado a data.

Adoro todos os meus avós. O avô Manel mal conheci, mas gosto de pensar que era um tipo porreiro. Dizem que tinha um feitio difícil, mas que era também um bom companheiro. O avô António é o meu compincha. Tem um feitio 'daqueles' e não é nada dado aos abraços e beijinhos. Mas quando sabe que estou em casa dos meus pais, leva o meu queijo preferido. É a sua maneira de mostrar que gosta muito muito muito de mim. A avó Inês era a minha maluca preferida! Chocávamos várias vezes, mas eu ria-me que nem uma louca com as suas histórias e estava sempre pronta para a brincadeira! O meu pai diz que eu falo pelos cotovelos. Saí à avó Inês - temos sempre muitas coisas para dizer e forma de animar os que estão à nossa volta! 

Adorava ter conhecido o avô Manel, tenho IMENSAS saudades da avó Inês e adoro o avô António!!

Mas a avó Manela era diferente. A avó Manela só esteve comigo durante (quase) 11 anos. E chegou para marcar a minha vida mais do que qualquer outra pessoa.

Os melhores momentos que vivi foram passados no Estoril, a beber groselha na Garrett, a ir dar pão aos peixinhos, a ir ao Saloio fazer compras, a ver canais da TV Cabo (a descoberta do Cartoon Network foi uma loucura!), a fazer combinados para o almoço, a ir à loja dos sapatinhos, a ir a correr para a cama da avó porque tinha medo do quarto da tia Vera e a adormecer a ouvir a história da Cinderela (ainda hoje a oiço a contar. Parece uma coisa de contos de fadas, mas não é: oiço mesmo a descrição do vestido e dos sapatinhos com a voz da minha avó).

A avó Manela não fez nada que outra avó não fizesse pelo neto. Todas (ou quase todas) as avós são maravilhosas! Mas havia alguma coisa... Ainda hoje não sei explicar. Havia alguma coisa que fez da avó Manela a pessoa que mais me marcou até hoje.

No dia em que soube da sua morte, tinha ido andar de bicicleta pela Areia com dois amigos. A minha mãe chegou a casa de um deles para me ir buscar e não conseguiu esconder as lágrimas. Disse-me que a avó estava doente há muito tempo (eu já não a via há meses) e que tinha morrido. Não disse nada e fui até casa sem chorar, sem dizer nada. Acho que só chorei quando fiquei sozinha no meu quarto. Não quis fazê-lo à frente de ninguém. 

Não penso nela todos os dias. Fico muitos dias sem o fazer. Mas lembro-me dela muitas vezes. E aí sim, choro à vontade. Choro porque tenho muitas saudades, porque a vida não é justa, porque uma pessoa tão boa, que dedicou a vida a curar os outros, não merecia morrer tão nova e sofrer tanto. 

Não tenho, nem nunca terei, a coisa bem arrumada na minha cabeça. Puta de vida esta (ai se ela sonha que eu digo estas coisas!). 

Agora andamos nós por cá. Os filhos, os sobrinhos e os netos. Mas nenhum de nós vai conseguir ser igual à avó Manela. Porque eu nunca conheci uma pessoa tão boa quanto ela.

Tenho mesmo muitas saudades da minha avó. Acho que não quero mesmo decorar esta data.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Parabéns a mim!

Hoje estou cansada. Foi o primeiro dia de trabalho a seguir às férias. Custou-me levantar cedo, andar a correr para ir para o trabalho e sentir a moleza pós-almoço (maldita moleza pós-almoço!!). 

Mas recebi uma notícia daquelas! 

Hoje ficou provado que com trabalho e dedicação, aos poucos e poucos, o esforço é recompensado. 

Por isso, depois das tarefas da casa, sentei-me no sofá e (juro!) pensei: "Parabéns a mim".

Todas as pessoas deviam sentir esta coisa esquisita que é o estar de parabéns. Sabe tão bem! 

Agora vou tomar um duche bem quente, deitar-me e adormecer a pensar outra vez: "Parabéns a mim".

sábado, 13 de junho de 2015

Praia do Guincho. A mania de falar sem saber

Acordei cedo. Tinha de ir a correr até à Baixa para comprar um presente para o pai. Já tinha combinado que ia passar a tarde com ele - à noite ia para a bela da noite de Santo António com colegas (e amigos).

Saio de casa no caos do costume - mudar de mala, procurar sapatos, maquilhar a correr, toalha para um lado e pijama para o outro, encontrar as chaves. Fecho a porta de casa e vejo que o céu está demasiado cinzento para uma véspera de Santo António. "Tranquilo. É só uma ameaça". 

Compro os livrinhos e os CD para o pai e meto-me a andar até ao Rossio para apanhar o comboio para Sintra. Vejo mais chapéus de chuva do que óculos de sol. "Tranquilo. É só uma ameaça".

Chego a Sintra e a mãe está com o guarda-chuva na mão. "Ainda há pouco caíram umas pingas. Nada de especial". Vamos para o carro, rumo a Cascais. "Tranquilo. É só uma ameaça".

O pai está com a neura. Como tem direito ao dia, já tinha tudo planeado: almoço tardio, uns mergulhos no mar e jantar com a família. Relembrei que não estaria presente à noite. Primeiro golpe nas expectativas. O céu está prestes a dar o segundo. "Tranquilo. É só uma ameaça".

São 16:00 e ele não perdeu a esperança: Está vento, não está calor e parece que vai chover. "Vamos experimentar a Poça", diz a mais nova. "Se é para experimentar a Poça, vamos masé ao Guincho". 

Suicídio, pensa a maioria. Mas como me ensinaram, "não fales sem saber". 

Enquanto a maior parte da população portuguesa se preocupava com a roupa no estendal e as sandálias novas, eu estava na praia do Guincho - a praia do vendaval apenas com uma brisa, a praia do mar perigoso com bandeira verde, a praia que nunca tem lugares com o areal e as ondas só para mim. Para mim, para a Capitu e para o pai. Teve o dia de anos que queria, com o melhor desta vida. "Tranquilo. Foi só uma ameaça".