... As do Sr. Armando. Ou será que era Sr. Agostinho? Um dos nomes foi inventado pela minha mãe... Também havia quem o tratasse por Sr. Morais. Nunca lhe perguntei o apelido, por isso não faço ideia...
Para mim, era o Senhor (sim, com letra grande, que bem merecia) das bolas de Berlim do Guincho. Não há melhor bola no mundo!
Lembro-me de passar pelo túnel de acesso à praia (oh tempo, volta para trás, quando o acesso ao Guincho era bem mais giro do que é hoje) e de o ver com a mulher atrás do balcão de pedra. Cumprimentava-nos sempre com um sorriso e assim que nos via dizia logo "quantas são hoje?". No final do dia, quando íamos embora, dizia-nos como ia estar o tempo no dia a seguir e se valia a pena arriscar ou não.
Ainda me lembro quando, além das bolinhas, também vendia gelados e batatas fritas. Deus nos livre agora venderem batatas na praia - vem a autoridade dos bons costumes e proíbe logo a venda de tudo e mais alguma coisa, porque tudo e mais alguma coisa fazem mal à saúde. Nem sei como eu, os meus irmãos, primos e amigos de infância sobrevivemos a esta infância terrível, cheia de gelados na praia.
Voltando ao assunto. Nos últimos anos, o Sr. das bolas já não fazia a sua travessia pelo Guincho. Ficava só sentado à entrada, com o grande tabuleiro branco, à espera dos seus cliente. As bolinhas esgotavam em dois minutos.
Não sou muito dada a doces, mas aquelas bolas de Berlim são do melhor que há. Então quentinhas... Não há melhor a seguir a um mergulho.
Disseram-me este ano, no meu primeiro dia de Guincho, que Sr. das Bolas morreu. Andava a vender bolinhas no Guincho desde 1963, ano em que a minha mãe nasceu. Aqui fica uma justa homenagem ao Sr. que fez parte da minha infância (e da de muita gente de Cascais). A sua fábrica continua a funcionar e as pessoas que trabalhavam com ele continuam a vender as melhores bolas de praia do país. As suas bolinhas vão continuar a fazer parte da infância de muitos miúdos.
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